Sergipe, sergipanidade, sergipanismos, sergipanemos!

24/10/2023 19:12

Por Luiz Eduardo Oliva


Sergipe, sergipanidade, sergipanismos, sergipanemos!

Para os aficionados pela música brasileira Dolores Duran é um ícone do chamado samba canção, a famosa música da “dor de cotovelo”. Morreu jovem aos 27 anos, em 1959 deixando um dos maiores legados da nossa música. Foi parceira de Tom Jobim, de Carlos Lira, teve música sua gravada por Franklin Sinatra, foi parceira do sergipaníssimo João Melo (“Sambou, Sambou”). Dolores Duran era o nome artístico de Adiléia Silva da Rocha e era filha de uma sergipana de Itabaiana.

João Nogueira é considerado um dos maiores sambistas brasileiros. Para a geração mais jovem é lembrado principalmente por ser o pai de Diogo Nogueira. João Nogueira era filho do advogado e violonista João Batista Nogueira, um sergipano buraqueiro de Porto da Folha, amigo de Pixinguinha.

Noel Rosa é o maior nome da música brasileira da primeira metade do século passado e até hoje é das maiores referências da nossa música. É um dos verbetes mais pesquisado no Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Noel Rosa era casado com a sergipana Lindaura Martins.

Marcos Palmeira é um dos principais atores da teledramaturgia brasileira. Natural do Rio de Janeiro basta uma busca por sua biografia na Wikipédia vai encontrar um dado no mínimo inusitado, mas ao mesmo tempo demonstra o valor dele por suas origens: “a mãe do ator é a produtora Vera Maria Palmeira de Paula (conhecida por Vera de Paula) que por sua vez é filha do advogado nascido no Sergipe: Sinval Palmeira, deputado estadual do Rio de Janeiro cassado pela ditadura militar. 

Paris se faz culturalmente também pelos seus cemitérios, onde estão os grandes nomes da cultura francesa ou outros nomes que brilharam na Cidade Luz. Essa peculiaridade chega a ser atração turística a tal ponto que se você for pesquisar o site da agência de viagens Tripadivsor vai encontrar entre as atrações os “Dez Melhores Cemitérios de Paris” onde o primeiro deles é o Cemitério do Père-Lachaise, um dos mais famosos do mundo.

E o que isso tem a ver com a sergipanidade ou o sergipanismo? É que um dos nomes de referência (vá a Wikipédia e verás) dentre as grandes personalidades da cultura mundial que estão lá enterrados o nome do pintor sergipano laranjeirense Horácio Pinto da Hora é um dos destacados ao lado de nomes como os seus colegas de pintura Eugène Delacroix, Jacques-Louis David, da cantora Edit Piaf, dos romancistas Honoré de Balzac, Oscar Wide, Malcel Proust, dos poetas Cyrano de Bergerac, La Fontaine, dos filósofos Pedro Abelardo, Pierre Burdieu, e outros nomes como Allan Kardec e Molière (um dos maiores dramaturgos da humanidade). De todos estes nomes o único brasileiro referenciado é justamente o nosso grande pintor Horácio Hora.

O Hino da Cidade do Rio de Janeiro é chamado de Cidade Maravilhosa. Seu título foi inspirado num programa radialístico de grande sucesso à época, apresentado por César Ladeira, onde este lia as "Crônicas da Cidade Maravilhosa", escritas por um imortal da Academia Brasileira de Letras, justamente o sergipano de Itaporanga Genolino Amado.

Cândido Aragonez de Faria foi o pioneiro no mundo dos cartazes de cinema. Considerado um dos maiores artistas gráficos do mundo, foi ele quem produziu em 1902 o primeiro cartaz da história do cinema, para o filme Les victimes de l"alcoolisme, de Ferdinand Zecca, produzido pela celebrada Societé Pathé Frères. Trabalhou especialmente para os Clérice Frères, a Film d"Art e a Pathé, criando anúncios e cartazes para óperas, musicais, filmes e espetáculos de variedades, capas de livros e de edições musicais, e outros trabalhos. Seus cartazes de filmes e turnês de cantores e espetáculos famosos correram o mundo, dando-lhe uma reputação internacional. Cândido Aragonez de Faria era sergipano da cidade de Laranjeiras.

No movimento para a formação das Nações Unidas, um dos diplomatas brasileiros participantes foi o estanciano Gilberto Amado. Diante do impasse da data para comemorar a fundação (vários atos em datas diferentes haviam se sucedido) e numa daquelas enfadonhas assembléias, discutia-se aqui e acolá qual a data mais precisa, quando Gilberto Amado gritou: “24 de outubro!” Cansados, os congressistas logo aprovaram. Genolino Amado seu irmão (acima referenciado) perguntou-lhe: “foi sergipanismo consciente ou inconsciente?”. O fato é que basta ir ao Google e está lá: 24 de outubro, que é o dia da sergipanidade, também é o dia da Organização das Nações Unidas, proposto por um sergipano.

A expressão brasileiríssima para significar o superlativo de bom é sergipaníssima: “bom à beça” que se referencia ao sagaz poder de argumentação do grande jurista sergipano Gumercindo Bessa que na questão do Acre superou a figura exponencial do baiano Rui Barbosa (o beça cedilhado foi o resultado de posteriores reformas ortográficas).

Falar sobre a expressão cultural sergipana não se pode esquecer o nosso Tobias Barreto de Menezes. São os sergipanos que migraram para estudar em Pernambuco no século XIX que, sob a liderança de Tobias vão marcar a Escola do Recife, movimento que justamente pela peculiaridade de ser integrado por maioria de sergipanos, foi ironicamente chamada pelo intelectual carioca Carlos de Laet escola teuto-sergipana justamente por introduzir o germanismo no Brasil. Vale tanto Escola do Recife como Escola Teuto-Sergipana (teuto se refere justamente ao nativo da Alemanha).

Sergipe para lá de ser o menor estado do Brasil é, sobretudo um estado de espírito, é um país cultural, como se já não bastasse ser o “país do forró” como tão bem cantou Rogerinho. E, como dizia Gilberto Amado na conhecida frase, é pequeno “para não ofuscar a grandeza dos seus filhos”, no que eu acrescento: e também de suas filhas!

Viva o 24 de outubro o dia da Sergipanidade!

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