Editorial: A ESPADA DE DAMOCLES

11/10/2019 21:48


Editorial: A ESPADA DE DAMOCLES

As recentes ações desenvolvidas por órgãos de combate à corrupção investigam a ilegalidade epidêmica que se tornou, pelo uso continuado e sem controle, uma generalidade aceita como sã e pura: nomeações de funcionários para cargos em comissão, ausentes do eixo central de trabalho, onde sequer caberiam, por absoluta falta de espaço.

Segundo um respeitável líder político do “hinterland” seus assessores são nomeados para exercerem a necessária ligação com a  assistência que ele tem de prestar aos seus eleitores que vivem o dia a dia nas comunidades. Tornam-se seus representantes. É um círculo vicioso, mas é assim mesmo que funciona. 

Seria impossível exercitar esse trabalho pessoalmente. É assim que a banda toca, sempre tocou.  

A eles soa como inadmissível ser, ao nomear esses “assessores”, culpado de qualquer ilegalidade. Ver-se na linha de fogo de operações que buscam punir esse comportamento é sentir-se com uma espada pesada sobre suas cabeças, amarrada por um frágil cabelo de cavalo, como aconteceu com o mitológico bajulador Dâmocles. Até certo ponto faz sentido...

Verbas de gabinete ou cargos em comissão servem para apoio aos titulares, que destinam recursos previstos em Lei, para despesas de suporte técnico e financeiro de suas funções, seja ele, governador, prefeito, deputado, presidente de órgão ou secretários. Os valores especificados para esse item são generosos, sempre superiores à remuneração do titular do cargo. 

Há uma linha muito tênue separando o certo do errado. De vez em quando, de tempos em tempos, notícias que agravam a combalida reputação dos políticos passam a ocupar as manchetes policiais e a ser alvo suculento de comentários desairosos. 

Infelizmente os engodos e artifícios que são denunciados. para desviar esses recursos em direção às próprias algibeiras, chegam às raias de verdadeira ópera bufa. Com direito a apelidos apelativos como “rachadinhas”, e outros que tais...

Por osmose ou por efeito abrupto do corrosivo veneno do lugar comum, os novos políticos chegam aos mandatos como marinheiros de primeira viagem, e, quando se dão conta, já embarcaram na canoa furada de erros e ilegalidades que se tornaram morais, porque todos fazem os mesmos procedimentos. 

Com “verbas de gabinete” generosas, que o gestor tem de aplicar integralmente, a margem para descaminhos é apelativa demais.

Há de se reconhecer que durante anos a fio, o funcionamento do “stablisment” tem sido desse modo. Assessores cuidam dos interesses dos seus chefes em suas próprias áreas de trabalho, e ponto final. A ilegalidade passou a ser rotina normalíssima. 

Todos sabiam de tudo e quem não seguia o som da música perdia o compasso e as “vantagens”. Todos, - mesmo os que não gostavam da “farra” – iam ao embalo entorpecente das vantagens tão comuns. 

Será necessária certamente uma reforma política séria, para colocar o trem nos trilhos, pois já descarrilou há muito tempo. Servirá para colocar responsabilidade no trato com as verbas públicas e sua distribuição. Na realidade os Poderes se nivelam quando se trata de favorecimentos pessoais: aumentos, auxílios paletó, gasolina, assessoria, etc., todos sem a menor densidade moral.

Agora, com a confortadora reação de operações saneadoras, temos de esperar o uso do bom senso para equalizar parâmetros que permitam controle ao que era culturalmente uma regra geral. 

A política deve ser uma arte e nunca uma artimanha. 



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