Editorial: despojos da política

21/12/2019 18:10


Editorial: despojos da política

Desnecessário ir além do senso comum, do que é visível e exposto a quem quiser ver, para mostrar como são os procedimentos de uma campanha política. Estudiosos e “expertises” em ciência política, quanto menos teóricos sejam mais claudicam diante da dura realidade do que acontece em uma eleição; os filósofos políticos soçobram em suas eruditas elucubrações, e tudo que professam não passam de teorias polêmicas que não levam nenhuma luz ao entendimento do que seja uma campanha eleitoral.

Nunca um político surge do nada, assim como por mágica, num estalar de dedos. Há todo um procedimento anterior: seus primeiros passos, seu padrinho político, tempo de militância, herança eleitoral, situação financeira, enfim, impossível um líder poderoso amanhecer menos rabugento e dizer aos seus tutelados: temos um sucessor, meus votos serão para fulano de tal. 

Mesmo em situações terminais, para evitar uma convulsão social ou conflitos desastrosos, mesmo nesses momentos em que o líder tem picos de imensa solidão, ele pode tirar da manga uma carta escolhida, a seu bel prazer, sem minuciosa avaliação de antecedentes e de aceitação da maioria. Esta nova carta deverá ter intima vinculação com o baralho e o tipo de jogo a ser jogado. Porque ele é apenas o coringa.

Uma eleição, simples ou complexa, passa por procedimentos que se constitui numa espécie de ritual: vinculação burocrática com uma agremiação política; agrupamento seletivo de amizades internas no partido, padrinho político, carisma para a complexa atividade a que se propõe, militância, engessamento pessoal engrossado em anteriores campanhas; preparação individual para assumir adequadas posições comportamentais perante a imprensa, os comícios, os conflitos gerados por adversários, retidão no estilo de vida e... recursos financeiros. 

Recursos financeiros: aí está o nó górdio das campanhas eleitorais. Sem dinheiro não se vence campanha eleitoral. Geralmente a fatia dos recursos partidários distribuídos aos candidatos mal dá para pagar o aluguel de equipamentos eletrônicos para gravação dos programas de rádio e televisão... e uma retaguarda de “marketing” mesmo meia-bomba, quem paga, quem, quem?

E a boca de urna, que é condenável, proibida e fiscalizada, mas que sempre existe? A profusão milagrosa de “profissionais” espertalhões que zoam nos ouvidos dos candidatos com “garantia” de retorno, é um canto de sereia irresistível. 

E a folha de manutenção de “cabos eleitorais” que, salvo exceções raríssimas, são condenáveis exploradores da fragilidade dos candidatos que vendem bens ou se endividam na esperança que lhes é vendida, em terceira via, por esses rotundos marginais dos despojos eleitorais.

O caldo dessa cultura mal sã ainda vai demorar a apresentar melhorias. Uma eleição depende de uma série de predicados pessoais, mas um deles continua insubstituível: sem dinheiro não se ganha eleição. 

É um duro vestibular que os políticos têm de enfrentar de quatro em quatro anos, sempre sob novas regras jurídico-eleitorais, mas, como diria Bonifácio Fortes, em seu livro ´Ética”: “mudam os palhaços, mas o circo é o mesmo”.  

 

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