Artigo: o papel das universidades sob a perspectiva da fraternidade: a construção de nova realidade social

13/01/2020 18:46


Artigo: o papel das universidades sob a perspectiva da fraternidade: a construção de nova realidade social

 

 

Das poucas instituições sociais que resistiram às modificações ocorridas ao longo do tempo, a universidade é uma delas. Esta existência, para muitos pesquisadores, ocorreu pelo fato de a universidade saber adaptar-se às transformações culturais de seu tempo histórico. Afinal, ao longo de sua trajetória, a universidade, é uma das instituições que mais sistematicamente tem beneficiado o desenvolvimento da ciência e da cultura. 

A universidade moderna, com marco inicial na instituição da Universidade de Berlim, em 1809, por Wilhelm von Humboldt, encerra os valores do desenvolvimento da racionalidade e da ciência, como escopo da construção universitária. Isto é, a universidade moderna se baseia em concepções da modernidade de construir e compreender conhecimento, se estruturando sobre as regras do pensamento racional. Pensamento que influi diretamente na organização curricular e estrutural das universidades nos séculos XIX e XX.

Diante disso, surge um novo momento histórico que situa para as universidades questões desafiadoras para a sociedade e para a própria tradição acadêmica da universidade, sua identidade e sua função na sociedade contemporânea. O objetivo é continuar contribuindo para o desenvolvimento social, político, científico e cultural, devendo desvelar quais são as suas formas de responder a essas questões.

É evidente que a universidade trata especificamente das questões de formação de conhecimento (epistemológicas), o que levanta a polêmica sobre questionamentos e reflexões críticas feitas por vários estudiosos sobre as concepções do conhecimento na Modernidade que podem ter significante implicações teóricas e práticas para a universidade (PEREIRA, 2002). 

Nos últimos anos, mediante o surgimento da era tecnológica o cenário apresentado pela modernidade retrata uma ampla insensibilidade, em relação humana pessoa-pessoa. Os discentes contemporâneos que frequentam o ensino superior integram uma geração no qual o acesso à informação é muito rápido por meio dos mais diversos meios tecnológicos (telefones celulares, computadores, televisão, etc.).

Essa difusão, de novas técnicas de comunicação, em progresso, mas na contramão da responsabilidade humana, constituem-se sem a mínima preocupação com o outro, fazendo com que, atualmente, prevaleça, entre os diversos setores da sociedade, a individualização.

A emergência do sujeito é uma das peculiaridades essenciais dessa nova perspectiva da universidade. Tal emergência não refuta a visão racionalista, mas sim obsta o seu totalitarismo. Ademais, esta emergência almeja uma viável e necessária interação entre o sujeito e a razão e, neste sentido, supera-se o antagonismo posto pela Modernidade. O que se quer é enxergar a universidade “além do espelho”, por meio da fraternidade.

Quando se fala em fraternidade, de logo remete-se a ideia de solidariedade e amor ao próximo. Mediante suas múltiplas interpretações, a fraternidade, destaca-se a “participação” –visão da Universidade de Sophia (localizada em Loppiano, na Itália), especialmente, a interpretação de Antonio Maria Baggio, seu professor titular de Filosofia Política; e também a percepção de “comunidade”, argumentada por Ronald Dworkin, entre outros (HORITA, 2018).

A fraternidade se faz preenchida pelo diálogo resultante do estabelecimento das relações horizontais entre os pares, na verticalidade da comunhão a ser experimentada entre os homens, e, também, na interação de tais relações, o que viabiliza a tolerância de onde resultariam as relações jurídicas, reificadas na corporeidade do dualismo jurídico do “dever-ser”. Assim, a fraternidade completa-se com a tolerância (KELSEN, 2013).   

A educação formal deve se preocupar com a formação ética dos estudantes, suas características axiológicas, da mesma forma em que historicamente vem se preocupando com a absorção de conhecimento, o que implica na relevância de analisar como as transformações na tradicional estrutura curricular podem beneficiar na construção de valores sociais em nossa sociedade.

De fato, a cultura acadêmica concerne à viabilidade de elaborar, transmitir e adquirir o conhecimento fruto da articulação entre ensino, pesquisa e extensão.

A construção de valores na universidade revela a sua contribuição na formação de cidadãos, um dos grandes desafios da educação atual, na medida em que a sociedade se encontra na terceira fase histórica da definição de cidadania, compreendida como um conjunto de direitos e deveres (individuais, econômicos, políticos e culturais), e essencialmente como participação ativa na vida pública (BENEVIDES, 2004). 

A educação deve ser compreendida como solução para as desigualdades sociais. Para tanto, deve-se adequar os parâmetros da educação brasileira às novas tendências de ensino. A fraternidade, é considerado um Princípio Revolucionário uma vez ser um dos ideais das Revoluções Francesa e Americana, que se ocuparam com a preocupação em combater as desigualdades sociais, proteger os direitos fundamentais da pessoa humana em prol do alcance do bem-estar social.

O que se busca é promover uma maior conscientização social e moral dos alunos, voltadas, especialmente para grupos sociais menos beneficiados, entre eles os idosos. Sobre o tema, ressalta-se a relevância da literacia mediática para as gerações. Apesar de existir a preocupação atual de elaboração de novas práticas educacionais direcionadas para a inclusão dos idosos, ainda é latente a exclusão desse grupo. (SOBRAL DE SOUZA; SILVA, 2019). Assim, incentivar alunos sobre a aprendizagem entre gerações, contribui no fomento da inclusão social e na implementação de políticas direcionadas ao combate do isolamento social.

Outro fator importante é a inserção de cidadãos no ensino superior privado. Inegável que a busca de soluções de redução das desigualdades historicamente criadas no Brasil, tem passado por políticas públicas que, especialmente, possibilitam o acesso ao ensino superior privado pelas camadas populares, com o escopo de promover a democratização neste nível de ensino e expandir oportunidades de mobilidade na estrutura social posta.

Aí consiste a importância do papel do docente na construção universitária, na medida em que o docente influi diretamente no sucesso na situação de aprendizagem, que deve ultrapassar os limites da educação epistemológica, para a educação cívica e moral, formando alunos dentro de um contexto mais amplo de Estudos Sociais, conforme defendeu o relator Dom Luciano José Cabral Duarte no Parecer nº 91/71 (BRASIL, 1971).

O processo de construção profissional de cada aluno requer a necessidade de reinterpretar o método de formação no sentido de fornecer aos docentes a viabilidade de ressignificar a sua prática pedagógica. Nesse sentido, a formação deve abranger a cultura tendo como perspectiva a emancipação humana.

Ao se buscar uma nova perspectiva é necessário desconstruir a forma arraigada de enxergar, examinar, compreender, julgar e avaliar os fatos. Deve-se atentar que a função primordial da universidade é a de formar profissionais para um mercado, devendo romper a imagem da preparação tradicional dos alunos. Para o mercado é preciso transformar a concepção de formação que deve se desenvolver na universidade, devendo ir além de preparar os alunos com técnicas pragmáticas de aplicação do conhecimento científico. 

Exige uma abertura da análise, discussão e reflexão sobre a real função social da universidade, a finalidade de sua atuação na formação dos universitários e determinar o perfil de profissional que a sociedade deseja e precisa, pautado em valores axiológicos, além dos científicos. A formação integral na universidade contribui para a ampliação da condição do homem. Formação que abrange o desenvolvimento não apenas teórico, mas cultural, material e social. Isto é, à universidade incumbe a responsabilidade ética concatenada ao conhecimento científico.

Infere-se, assim, que estudar uma nova configuração de espaços e práticas pedagógicas, contribui para quebrar as paredes secas da teoria, expandindo seu horizonte à uma concepção fraternal que pode convergir positivamente para a formação universitária de alunos e alunas. 

 

 

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