Olhares complementares em prol da gestão pública

23/06/2019 19:13


Olhares complementares em prol da gestão pública

Num dia desses, assistindo um desses vídeos que são compartilhados no WhatsApp, aprendi um aspecto da vida um tanto prosaico, e que não sei exatamente por qual motivo, marcou-me intensamente.

Vi um palestrante, que, salvo engano, tratava de neurociência e atenção, que, ao explicar as múltiplas deficiências de nosso processo de percepção da realidade, arrematou: - o olhar humano é sempre limitado, nem tudo é percebido. Tanto é assim que, qualquer um ao olhar-se no espelho, parado, não é capaz de perceber o olho se mexendo.

Fiquei de certo modo impressionado. Como eu não seria capaz de ver meu olho se mexendo? Que ideia? E, por óbvio, corri ao espelho para testar a afirmação. E não é difícil adivinhar:  realmente não fui capaz de ver o movimento dos olhos, mantendo fixo e sem movimento o meu rosto.

Muito bem, é certo que não foi uma epifania daquelas comuns nos textos de Clarice Lispector (vide, por exemplo, Paixão segundo G.H e o episódio da Barata). Mas tal questão, cotidiana, imediata, simples, trouxe-me algumas reflexões (daquelas que valem para a vida); e uma delas quero trazer ao presente texto. Explico.

Ora, por que não vemos o movimento do olho? Porque (imagino eu), para mexer o olho, temos que direcionar o olhar para outro local, e ao fazer isto, não estamos mais olhando para o espelho (e sim para um lado e para o outro); e, em virtude deste movimento, não podemos ver o olho se mexendo.

Do que decorre a lição de que (e esta é a minha reflexão), em muitos aspectos da vida, precisamos do ponto-de-vista de um terceiro (a visão do outro) para uma completa e inteira percepção da realidade.

Raciocínio que inclusive corrobora filosoficamente a importância dos órgãos de controle. Órgãos que nada mais são do que olhares de terceiros (que não substituem o olhar primeiro) sobre uma determinada atuação, criticando/recomendando/corrigindo/eventualmente sancionando para que o resultado seja sempre aperfeiçoado.

Ou seja, alguém de fora que procura ver o movimento, o detalhe, o caminho correto, querendo iluminar a situação controlada. (Trabalho também de parceria e auxílio, que exatamente procura desempenhar o Ministério Público de Contas de Sergipe).

E raciocínio que corrobora também, o caminho inverso, qual seja, que os órgãos de controle devem buscar também os olhares dos gestores, dos administradores, daqueles que estão vinculados diretamente às políticas públicas para enriquecer suas avaliações, pareceres e julgamentos.

Isto porque, muitas vezes, a dinâmica da vida; as diversas urgências que se sucedem no dia-a-dia da gestão pública; a multiplicidade de problemas novos e antigos que se sucedem; todos estes aspectos fazem com que a gestão pública não seja uma mera repetição de paradigmas, nem tenha um manual que contemple todas as situações fáticas possíveis.

Um exemplo da contribuição dos órgãos de controle para a gestão, são as auditorias operacionais, como aquelas que têm sido repetidamente efetivadas na área de saúde nos Municípios sergipanos, onde o Tribunal de Contas de Sergipe tem dado contribuições efetivas na melhoria da gestão das unidades de saúde, garantido melhor eficiência na gestão de pessoas, e monitorado os resultados das políticas de saúde da atenção básica.

Exemplo do diálogo no sentido contrário, temos com a abertura do TCE/SE e MPC/SE para ouvir os gestores de Educação em Sergipe. E ouvindo o Secretário de Estado da Educação, e experiências dos Municípios de Itabaianinha e Tomar do Geru; aprendemos muito sobre como existem gargalos de aprendizagem no 3º ano do ensino fundamental (e crianças que avançam de ano sem a alfabetização devida); que (por isso) urge haver uma avaliação do alunado também pelas Secretarias de Educação, com vista a monitorar o processo de alfabetização e de aprendizagem; e a importância de trabalhar a participação familiar na vida acadêmica do aluno.

Questões que serão discutidas no Workshop da Educação, que será realizado no TCE/SE (com apoio do MPC/SE), a partir de dia 02 de julho próximo (e que, acho, trará maravilhosos frutos para a educação sergipana).

A neurociência demonstra que nossas experiências são apenas fotografias pontuais da realidade; e que, para montar o quebra-cabeça da existência, são necessários muitos pontos-de-vista. Por isso, defende-se que gestores e controladores têm que agir coordenados e com olhares complementares. Neste contexto, respeitando-se o papel institucional de cada um, em parceria, tem-se muito a construir em termos de sucesso de políticas públicas em nosso Estado de Sergipe e no Brasil.

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