Crônica Pérolas da UFS - Por Juviano Garcia

25/05/2021 07:11


Crônica Pérolas da UFS - Por Juviano Garcia

PÉROLAS DA UFS I

Por Juviano Garcia

Em dezembro de 1970, após concluir o curso técnico agrícola, minha obsessão era conseguir um emprego para ajudar meus pais. Tio Aloísio, conseguiu com o gerente do Bradesco uma entrevista para mim, na qual, por graça de Deus, não me saí bem, então resolvi me inscrever no Vestibular para Economia, tendo sido o 12º classificado.

No início do curso, para sobreviver, entreguei recibos de energia, dei aulas de matemática no SESC, fui professor de matemática no Estado no primeiro grau. No quarto período consegui um estágio no CONDESE, que era, na época, o correspondente à Secretaria de Planejamento. Meu estágio era na COEGE-Coordenação Estadual de Geografia e Estatística, coordenada pelo saudoso dorense João Américo Prado Andrade, filho do Sr. Humberto do armazém da praça da matriz.

Lá tive acesso ao primeiro Censo Econômico do Estado de Sergipe, elaborado quando era Coordenador da COEGE o estatístico e professor da UFS José Hermenegildo Cruz, de quem fui aluno e a uma história pitoresca sobre a sua edição. Conta-se que o professor Cruz, solicitou ao então presidente do CONDESE, o também professor da UFS geógrafo dorense Fernando Figueiredo Porto, autorização para contratar 30 universitários como estagiários para aplicar os questionários no Estado ao que foi de pronto atendido. Elaborado o Censo, o Prof. Cruz, muito cônscio do dever cumprido, encaminhou dois exemplares do mesmo ao Prof. Fernando. No dia seguinte, assim que chegou à COEGE, a secretária do prof. Fernando lhe diz que este queria lhe falar. Quando entra na sala, Prof. Cruz encontra Prof. Fernando com um exemplar aberto em sua mesa a lhe elogiar pelo belo trabalho, mas com um porém:

- Cruz abre aí este outro exemplar na página 53, veja a quantidade de galinhas de Indiaroba e a produção de ovos. Será que essas galinhas tem uma metralhadora na cloaca?

Cruz era mesmo muito pitoresco. Em uma de suas aulas a que assisti, começou a divagar sobre Aracaju: “aqui neste Aracaju está tudo errado, o Vaqueiro fica na Atalaia já o Jangadeiro está no centro da cidade; a Avenida Beira Mar fica na beira do rio, a rua principal da cidade, em vez de ter o nome de um sergipano ilustre, tem o nome de um tabaréu da Paraíba. Olhem, se aqui chover cangalha, não cai uma no chão".

Prof. José Cruz chegava para dar aula num fusquinha branco, de fabricação alemã, sempre à incrível velocidade de 20 km/h, Contava-nos que, durante a única viagem que fez ao volante daquele veículo, fora abordado por um agente da polícia rodoviária, que lhe pediu o seu documentos e do veículo, checou as condições dos pneus, luzes etc. e, ato contínuo, lhe fez uma séria advertência: “o senhor não pode continuar sua viagem nesta velocidade.” Mas eu vinha dentro do limite de 80 km/h! - retrucou. O agente então lhe explicou que ele estava atrapalhando o trânsito na rodovia, andando a 20 km/h.

Durante uma aula o prof. Cruz nos relatou um entrevero que teve certo dia com um policial civil que, muito arrogante, lhe inquiriu: “você sabe com quem está falando?” O professor então lhe respondeu: “sei, com um bosta”.

Por falar em prof. Fernando Porto, lembrei-me agora de um evento que ocorreu quando ele era Diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, que corresponde, mais ou menos, ao atual CECH. Em dado momento chamou o servidor Wilson dos Santos para levar um processo na Reitoria, que na época ficava na Rua Lagarto. O rapaz recebeu o processo, assinou o livro de protocolo e foi saindo, quando o prof. Fernando lhe chamou de volta. É que sua rubrica tinha um traço vertical que tomava toda a página do livro de protocolo. Prof. Sampaio lhe entregou um minúsculo pedaço de papel em branco e lhe disse: “meu filho, me faça um favor, ponha sua rubrica nesse pedacinho de papel." Ao término da assinatura Prof. Fernando lhe passou um sermão daqueles, pois aquele traço inutilizava todo o resto da página, constituindo-se em um desperdício do dinheiro público etc., etc. Ah! Se hoje ainda existissem gestores públicos como esse!

Tivemos outro professor de estatística cujo nome me reservo o direito de não declinar, que numa aula sobre probabilidade, resolveu um problema aplicando uma fórmula. Só que, de acordo com o desenvolvimento do mesmo, resultava na divisão de um número por zero e ele deu com solução o valor 1. Houve uma revolução na sala com os alunos em unanimidade, afirmando que qualquer número dividido por zero dá em infinito, ao que ele retrucou que em Estatística não era assim.

Naquela noite fui para casa intrigado e corri para um livro da coleção Schaum e lá estavam a fórmula e o bendito problema. A fórmula era da combinação nCr = n!/r!(n-r)!. E o problema? Calcular o número de combinações de 4 elementos, quatro a quatro. 4C4 = 4!/4! (4-4)! = 4!/4! 0! Como 0! é 1, o resultado da divisão também é 1.

Onde estava o erro do tal professor? É que ele, ao copiar a fórmula da combinação, suprimiu os símbolos do fatorial (!), talvez achando que fosse um erro de impressão do livro. Sozinho, em plena madrugada, desatei a rir como um louco.

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