Historiador e neurologista lança livro sobre o apocalipse
14/02/2024 07:49
Por Louise Soares
O Apocalipse é tema recorrente em narrativas de delírios coletivos. Motivadas pela crença no fim do mundo, as pessoas adotam comportamentos que desafiam a razão.
Um dos assuntos apocalípticos mais populares dos últimos tempos é o dispensionalismo. Bastante difundido entre cristãos evangélicos norte-americanos, esse discurso afirma que o apocalipse está próximo e culminará com o arrebatamento, a salvação de um grupo escolhido.
Em "Os Delírios das Multidões", o neurologista e historiador William J. Bernstein analisa esta e outras temáticas, bem como os desdobramentos na sociedade e na política contemporâneas.
O livro
Ao longo da história, narrativas convincentes persuadiram grupos a adotarem comportamentos que desafiam a razão. Estimuladas por promessas de benefícios materiais ou espirituais, as pessoas arriscam suas economias e até as próprias vidas em nome de projetos insanos, com consequências desastrosas.
Em Os Delírios das Multidões, lançamento da Alta Cult, o neurologista e historiador William J. Bernstein analisa a natureza contagiosa da irracionalidade humana a partir de episódios de ilusões de massa financeiras e religiosas nos últimos 500 anos. São casos como a Loucura Anabatista de 1530, nos Países Baixos, e bolhas de investimento pontocom que estouram desde a virada do milênio.
Inspirado no clássico de George Mackay, A História das Ilusões e Loucuras das Massas, o livro de Bernstein apresenta uma visão atualizada destes fenômenos. A partir da combinação de elementos da psicologia, economia, religião e história, o autor fornece uma estrutura psicológica para entender por que o pensamento em grupo falha e o que acontece quando os fatos cedem lugar a irracionalidade.
Quanto mais as pessoas ao nosso redor compartilham a mesma ilusão, mais provavelmente acreditamos nela e, portanto, mais provável que as pessoas ao nosso redor também acreditem, um círculo vicioso para o qual não temos um freio de emergência analítico. Na presença de contágio delirante para o qual não existem defesas eficazes, as manias de fuga ganham cada vez mais força até que finalmente se chocam contra a parede de tijolos da realidade.
(Os Delírios das Multidões, p. 359)
Segundo o historiador, apesar das diferenças aparentes, as histerias financeiras e religiosas partem de um ponto comum: o desejo de melhorar o bem-estar nesta vida ou na próxima. A chave para entender o contágio destes fenômenos está na propensão humana a imitar, fabricar e consumir narrativas persuasivas e buscar status.
Compreender os mecanismos por trás dos delírios coletivos ajuda a decifrar importantes questões sociais contemporâneas. É o caso das crenças apocalípticas que, paradoxalmente, motivam tanto o Estado Islâmico no Oriente Médio quanto a polarização política nos Estados Unidos, com repercussões mundiais, inclusive no Brasil.
Nota da redação: A leitura do livro é recomendável para as pessoas que amam temas interessantes e que envolvem a própria existência da humanidade na terra. Além do mais, o assunto é por demais oportuno, nesta quarta-feira de cinzas", após o bate-boca entre as cantoras Baby do Brasil e Ivete Sangalo, durante o carnaval de Salvador. Após chamar a atenção dos foliões sobre a proximidade do apocalipse, Baby foi duramente "cortada" pela Ivete, que assegurou que "macetaria" os apocalípticos.
No dia seguinte, o trio de Ivete Sangallo quase pega fogo. Pelo sim, pelo não o redator sugere a leitura do livro.
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