Artigo: Jenner Augusto e os costumes de Sergipe - Por Igor Salmeron
12/06/2022 12:00
Por Igor Salmeron (*)
Um dos maiores pintores brasileiros nasceu em Sergipe. Seu nome? Jenner Augusto da Silveira. Nascido num dia 11 de novembro do ano 1924 em Aracaju, sendo filho de Seu Augusto Esteves da Silveira e de Dona Maria Catarina Mendes da Silveira, pais que instilaram nele o irrequieto espírito da nativa criatividade. Além de exímio pintor, foi desenhista, escultor, cartazista, ilustrador e gravador. Seu começo de vida foi sofrido quando perdeu seu pai contando seis meses de idade.
De origem humilde e marcada por inúmeras intempéries, Jenner Augusto enfrentou tempos difíceis desde a tenra idade. Dizem que pessoas nascem com talentos natos e Jenner é uma delas. Já garoto se destacava pelos estonteantes desenhos e rabiscos escolares. Morou em diversas cidades sergipanas, exemplificadas por Rosário, São Cristóvão, Itabaianinha, Lagarto, Aracaju e Laranjeiras. Enfatizemos que em cenário laranjeirense, Jenner Augusto copiou e fez recopias de quadros do seu primeiro semideus, o grande Horácio Hora.
Jenner fixou residência em Salvador. Nesse fecundo tempo se inseriu no lancinante movimento de renovação das artes ladeado por vultos como Jorge Amado, Caribé, Dorival Caymmi dentre outros com quem cultivou forte amizade. Já em Sergipe, realizou no ano de 1945 sua primeira exposição. Dois anos após, em 1947 participou de mostras coletivas, e em 1948 acontece a sua segunda exposição, esta é marcada pela substituição do academicismo pela ótica modernista.
O ano de 1949 delineia a influência do modernista Portinari na sua trajetória. Pintou de maneira mais que graciosa as paredes do lendário Cacique Chá, com lindos murais que nos faz remeter às cenas históricas, o folclore e os costumes de Sergipe. Esse trabalho, sem dúvida alguma, é paradigma da estética moderna sergipana. Participou no ano de 1950 do Salão Baiano de Belas Artes e da Mostra Novos Artistas Baianos. Em 1951, Jenner participa da 1ª Bienal de São Paulo e, em 1953, realizou o ébrio painel intitulado “Evolução do Homem” em Salvador.
Os anos 60 caracterizam as suas exposições de trabalhos abstracionistas no Museu de Arte Moderna na Bahia, sendo que em 1965 fez a sua primeira mostra individual em São Paulo. A partir de 1966, traça carreira exitosa também fora do país. Foram diversos países, dentre os quais: Holanda, Inglaterra, Espanha e Portugal. Foi sucesso de crítica na França e na Bélgica, onde travou diálogos com Paul Delvaux. Na década de 1990, Salvador recebeu uma galeria de arte em sua homenagem, denominada Espaço de Arte Jenner.
O ano de 2002 marcou a bela homenagem feita ao seu nome que foi emprestado para a Galeria de Arte promovida pela Sociedade Semear. Em 2012, a importante exposição “Jenner, Cores de uma Vida”, se realizou no Centro Cultural do Banco do Brasil, em Brasília, que também teve lançamento de livro homônimo, de autoria de Mário Britto e Zeca Fernandes. Jenner Augusto transparece sua alma em cada pincelada. Temos retratos fieis do sertanejo, hábitos locais bem como cenas idílicas baianas.
Aqui fica o enlevo que ele também fornecia às naturezas-mortas, aos aguerridos camponeses e os garotos de engenhos. Os retratos de amigos e familiares eram comuns nas pinturas de Jenner Augusto. Para àqueles que morrem sem viver, Jenner fez pela via artística conspícua transformação.
Faleceu num dia 02 de março do ano 2003, aos 78 anos de idade. Por meio das suas cores que refletiam a circundância telúrica, Jenner Augusto nos faz herdar as belezas, as emoções, enfim, os anseios sísmicos que só seus luminosos traços faziam enflorar.
(*) Igor Salmeron é sociólogo, doutorando em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFS.
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