Artigo: Joel Silveira, um escritor contundente - Por Igor Salmeron

28/06/2022 08:21


Artigo: Joel Silveira, um escritor contundente - Por Igor Salmeron

Considerado um dos precursores do jornalismo internacional e literário do Brasil, Joel Silveira nasceu na cidade sergipana de Lagarto, num dia 23 de setembro do ano 1918. Começou a trabalhar aos 14 anos no jornal “A Voz do Operário”, publicação voltada aos trabalhadores de uma fábrica de Aracaju. Mudou-se para o Rio de Janeiro no ano de 1937, contando 19 anos de idade, sendo contemporâneo de vultos como David Nasser e Samuel Wainer. Trabalhou em grandes publicações, como “O Cruzeiro”, “Diretrizes”, “Última Hora”, “O Estado de S. Paulo”, “Correio da Manhã” e revista “Manchete”. 

Seus textos são refinados, de engenho singular. A precisão era cirúrgica, Joel descrevia muito bem uma situação retratada, o que envolvia e emocionava qualquer leitor. Suas matérias e escritos constituem-se em obras de arte, sendo até hoje modelar para quem se dedica a observar os fatos com sensibilidade. Já dizia o poeta Manuel Bandeira a respeito de Joel: “O texto de Silveira é maciamente perfurante, como uma punhalada que só dói quando esfria”. 

Das suas brilhantes matérias, destaco uma em especial intitulada “1943: Eram assim os grã-finos em São Paulo”. Nela, Joel perscruta o universo dos abastados, pontilhando com sarcasmo e detalhes todo modo de agir acerca dos bem-nascidos paulistanos. Atuou na linha das ‘grandes reportagens’, sendo escolhido por Assis Chateaubriand para ser correspondente dos Diários Associados junto à Força Expedicionária Brasileira (F.E.B) ao lado de Rubem Braga na época da 2ª Guerra Mundial. 

O mesmo Chateaubriand alcunhou Joel de “A Víbora”, pelo seu notável estilo ferino e contundente, que podemos observar em seus mais de 40 livros publicados, dentre os quais: “O Pacto Maldito”, “Segunda Guerra Mundial”, “A Luta dos Pracinhas” e “Você Nunca Será Um Deles”. Joel Silveira ilustre sergipano pelo conjunto magnífico da sua obra, foi agraciado no ano de 1998 com o prestimoso Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, além dos disputados Líbero Badaró, Esso Especial, Jabuti e Golfinho de Ouro. 

Além desses trabalhos, podemos realçar: “Tempo de contar” (Record, 1985), “A Milésima Segunda Noite da Avenida Paulista” (Companhia das Letras, 2003) esta foi escrita quando cobriu o badalado casamento da filha do industrial Francisco Matarazzo e “O inverno na Guerra” (Objetiva, 2005), obras imprescindíveis para quem quer conhecer mais a fundo a lancinante estilística de Joel Silveira. 

Chegou a ser preso pelo regime militar após o AI-5, quando era diretor do jornal “O Paiz”. Foi amigo de inúmeros presidentes, entre eles, Juscelino Kubitscheck com quem mantinha ligação próxima. Defendia de maneira ferrenha o ofício de repórter, suas frases são, no mínimo, inesquecíveis, entre elas: “Se houvesse justiça no mundo, os nomes dos repórteres deveriam vir sempre acima dos nomes dos donos do jornal”. 

Amava a reportagem como poucos, tanto é que chegou a entoar: “Nada mais triste do que ver um repórter sentado na redação a olhar para o teclado, disponível e sem assunto, quando os assuntos, todos eles, estão lá fora enchendo as ruas”. Joel Silveira continua sendo inspirador nos quesitos disposição e perseverança. Para quem ama jornalismo e escrita que não se copia, Joel continuará sendo paradigma.  

Portanto, é insigne figura que honra o Estado de Sergipe e o coloca degraus acima tanto em nível nacional quanto além-fronteiras. Faleceu num dia 15 de agosto do ano 2007. Gênio ineludível da reportagem, um dos melhores que o Brasil já possuiu em seus quadros!  

 

* Igor Salmeron é sociólogo, doutorando em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFS.

 

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