Artigo: Amando Fontes, milagre da nossa literatura - Por Igor Salmeron
23/08/2022 09:22
Da valiosa safra de escritores sergipanos, podemos destacar a marcante trajetória de Amando Fontes. Nascido em São Paulo num dia 15 de maio do ano 1889, filho de Seu Turíbio da Silveira Fontes, dedicado farmacêutico e de Dona Rosa do Nascimento Fontes, professora de raras lições. Depois que seu pai faleceu, aportou-se com sua família em Aracaju, de onde sua estirpe era proveniente. No cenário local, fez seus primeiros estudos numa escola particular, ingressando no ano de 1909 no tradicional Colégio Ateneu Sergipense.
Aos 12 anos de idade já era prodígio, sua irrefreável paixão pelas letras foi sublime. Leitor voraz, nenhum livro lhe escapava nessa época. Contando 18 anos, Amando Fontes conhecia os mais representativos autores clássicos tanto da literatura nacional quanto os da seara estrangeira.
O ano de 1914 delineou seu radiante ingresso como revisor no Diário da Manhã, também em Aracaju, e, em 1919, entrou para a Escola de Medicina no Rio de Janeiro, no então Distrito Federal, vindo a abandoná-la mais tarde. Em 1922, por meio de concurso público, Amando Fontes tornou-se agente fiscal do imposto de consumo do Ministério da Fazenda, em Salvador. Em 1928 se tornou bacharel pela Faculdade de Direito da Bahia.
Depois da vitória da Revolução de 1930, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde dedicou-se à advocacia e passou a conviver no círculo do pensador católico Jackson de Figueiredo, de quem era amigo. Regressando à capital sergipana, elegeu-se deputado federal por Sergipe no pleito de outubro de 1934. Empossado em maio do ano subsequente, permaneceu na Câmara até o dia 10 de novembro de 1937, quando, com o advento do Estado Novo (1937-1945), os órgãos legislativos do país foram elididos.
Elegeu-se, em dezembro de 1945, deputado por Sergipe à Assembleia Nacional Constituinte na legenda da coligação formada pela União Democrática Nacional (UDN) e o Partido Republicano (PR). Assumindo sua cadeira em fevereiro de 1946, participou dos trabalhos constituintes e, com a promulgação da nova Carta e a transformação da Constituinte em Congresso ordinário, continuou no exercício do mandato na legislatura que se seguiu. No pleito de outubro de 1950 reelegeu-se na legenda do PR, exercendo o mandato até janeiro de 1955, quando deixou a Câmara dos Deputados.
Atuou como professor de escolas técnicas secundárias no Distrito Federal e pertenceu à Academia Petropolitana de Letras. Na esfera doméstica, foi casado com Corália Teixeira Fontes, com quem teve seis filhos. No universo das letras, publicou Os corumbas (1933) e Rua do Siriri (1937). Das suas obras escritas, podemos perceber as influências de Flaubert, Balzac, Gorki, Dostoievski, Machado de Assis, Garcia Rosa, Lima Barreto dentre várias mentes brilhantes.
Se quisermos entender as condições dos marginalizados e das camadas populares de Sergipe no princípio do Século XX, Amando Fontes se torna fundamental. A fervorosa análise das dores humanas o faz estar no rol de vultos como Jorge Amado, Raquel de Queiroz e Graciliano Ramos só para citar alguns. Faleceu no Rio de Janeiro no dia 1º de dezembro de 1967. Seus ensinamentos ecoam, não somente no fascinante campo da literatura, mas, sobretudo, na sociologia pela sua arguta visão acerca da população e seus inúmeros estorvos existenciais.
Portanto, Amando Fontes é milagre literário dos mais inesquecíveis na História de Sergipe. Seu pensamento cirúrgico equivale a das grandes efemérides, dentre as quais Silvio Romero, Manuel Bomfim e Euclides da Cunha. Sergipe possui gênios, saibamos os valorizar!
Igor Salmeron é Sociólogo, Doutorando em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFS.
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