Artigo: Manoel Bomfim, o pensador do impensável - Por Igor Salmeron

07/09/2022 08:27


Artigo: Manoel Bomfim, o pensador do impensável - Por Igor Salmeron

É inadmissível que ainda nos dias de hoje desconheçamos um intelectual tão marcante quanto o foi Manoel Bomfim. Nascido em Aracaju num dia 08 de agosto do ano 1868, cuja família nos remete aos proprietários de engenhos açucareiros. Quando fez 12 anos de idade, muda-se para Salvador onde realizou cursos preparatórios da Faculdade de Medicina, na qual ingressou no ano de 1886. Dois anos depois, em 1888, ocorreu sua transferência para o Rio de Janeiro, se formando em 1890. 

Clinicou durante oito anos e em 1896 tornou-se professor de educação moral e cívica na Escola Normal, essa que veio a ser o então Instituto de Educação. Nesse tempo, Bomfim escreveu importante obras didáticas, dentre as quais: “Língua Portuguesa”, em coautoria com Olavo Bilac. O ano de 1897 marcou sua entrada como Diretor do Pedagogium, museu de Pedagogia criado em 1890 com o objetivo de impulsionar o ensino nacional, enfatizando o ensino nas escolas normais. Em 1898 assumiu a cátedra de psicologia e pedagogia da Escola Normal, deixando de lado a medicina. 

No princípio do século XX, vai estudar em Paris onde encontra o médico Georges Dumas e o psicólogo Alfred Binet, estes haviam lhe sugerido a criação de um Laboratório de Psicologia Brasileira dentro do Pedagogium. Lançou um livro intitulado “América Latina, males de origem” no ano de 1905, quando ainda residia em terras francesas. Nessa obra, Bomfim negava a tese de que o retrocesso do continente se devia à índole de sua população ou à miscigenação. Enxergou na colonização a fonte de todo mal, e somente uma educação pública de qualidade daria um novo rumo para o Brasil e para a América do Sul em geral. 

Rebelde contumaz, ia de contra as ‘vacas sagradas’ do pensamento psicológico e da sociologia. Manoel Bomfim considerava o fenômeno psicológico como histórico e social, constituído nas relações mediadas pela linguagem, à qual eram produtos justamente do meio e da socialização. Seus estudos residiam nas manifestações humanas imersas no contexto histórico e não àquelas cerceadas em laboratórios. Opositor de Silvio Romero, este último afirmava que o atraso brasileiro se dava à miscigenação e a solução seria o branqueamento populacional. 

Polêmicas à parte, Bomfim criou o Laboratório de Psicologia do Pedagogium em 1907. Nele, o pensador incentivou o debate sobre a prática e a teoria do ensino, essencial para a cidadania e a conscientização equânime da sociedade. Foi Diretor da Instrução Pública do Distrito Federal, sem deixar de lecionar, e passou a fazer registros em livros da dupla experiência que vivenciou. Nesse tempo, publicou de maneira prolífica: “Lições de Pedagogia” (1915) e “Noções de Psicologia” (1916). 

Em 1919 deixa a direção do Pedagogium, dedicando-se somente às aulas e seus livros. Lançou “Pensar e dizer: um estudo do símbolo no pensamento e na linguagem” (1923), “O método dos testes” (1926) e “Cultura do povo brasileiro” (1932). Manoel Bomfim faleceu no ano de 1932 no Rio de Janeiro, tendo ainda publicado mais quatro obras: “Crítica à escola ativa”, “O fato físico”, “As alucinações auditivas do perseguido” e “O respeito à criança”. 

Podemos concluir que Manoel Bomfim é, como diria Darcy Ribeiro, o pensador mais original da América Latina. Bomfim, notável intelectual sergipano é basilar para o pensamento social brasileiro, nisso ninguém pode divergir. Suas reflexões permanecem atuais, e uma mente brilhante como a sua jamais pode ser condenada aos cárceres do nefasto blecaute. 

Igor Salmeron é sociólogo, Doutorando em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFS.

 

Compartilhe

Veja Também

Receba Notícias Pelo WhatsApp