Artigo: Santo Souza, o boticário das letras afáveis - Por Igor Salmeron

13/09/2022 08:21


Artigo: Santo Souza, o boticário das letras afáveis - Por Igor Salmeron

No vindouro mês de outubro, gloriosa época em que celebramos o nosso mais resplandecente espírito de Sergipanidade, claro que não poderia deixar esse genial autor passar em branco. Estamos falando de José Santo Souza, o célebre Santo Souza, que infelizmente, muitos ainda em nossa própria terra desconhecem. Nascido na histórica cidade de Riachuelo num dia 27 de janeiro do ano 1919, onde desde garoto se destacava pela impavidez cristalina. 

Oriundo de família humilde, Santo Souza foi notável figura ensandecida pela busca do conhecimento. Carregava em seu âmago a perseverança e imorredoura fé, a exemplo do espólio que herdou de sua mãe Dona Hermínia, que era arrumadeira e soube criar o filho enfrentando habilmente todos os percalços existenciais. Santo Souza cedo trabalhou na área farmacêutica e conseguiu concluir os estudos até a 3ª série acumulando mesmo assim ampliado saber. Autodidata e dotado por talento inquestionável, o poeta nascente já escrevia pequenos versos aos 10 anos e aos 15 estudou música, chegando a compor belas valsas para a namorada que tinha nesse tempo. Dois anos sucedâneos, aos 17 veio residir em Aracaju.

Sua poesia é calcada no ‘Orfismo’, corrente que trata sobre temáticas sacras, a natureza do bem e do mal inserida no elemento compassivo. Seus escritos cirúrgicos nos evidenciam as sinuosas condições humanas, as divindades e os heróis mitológicos, edificando, dessa maneira, laço entre vínculo pretérito e presente em que o agente poético se volve a ser um intérprete do porvir. 

Mais tarde, em 1953 escrevia crônicas para o rádio local, época em que lançou sua primeira obra, denominada ‘Cidade Subterrânea’. Este livro o espargiu positivamente no cenário da crítica, uma que se notabilizou foi a realizada pelo mítico Luís da Câmara Cascudo, que chegou a produzir o seu prefácio. O ano de 1954 marcou a vez de ‘Caderno de Elegias’ e ‘Relíquias’ no ano seguinte. 

No ano de 1956 lançou ‘Ode Órfica’ causando estardalhaço no universo da crítica nacional, considerada a basilar, bem como ‘Deus ensanguentado’, lançada no ano de 2008 havendo versão em espanhol. A importância de Santo Souza é sublime na ambiência literária local, brasileira e além-fronteiras, seus zelosos trabalhos desaguam num etéreo liame de formosura estética e preleção de reflexivos valores. 

Em Riachuelo uma escola foi batizada em seu nome, a Escola Municipal Santo Souza. Participou da Maçonaria, recebendo diversas premiações e honoríficas condecorações pelo Estado de Sergipe. Obteve o Grande Prêmio de Crítica pela Associação Paulista de Críticos e Arte. Santo Souza foi daqueles afortunados que puderam estar em contato direto com vários poetas renomados brasileiros dos quais, Carlos Drummond de Andrade e Mário de Andrade. Foi insigne membro da Academia Sergipana de Letras, ocupando a cadeira de número 03, bem como membro efetivo da Associação Sergipana de Imprensa e membro correspondente da Academia Paulista de Letras. 

Santo Souza nos deixou num dia 18 de abril do ano 2014, ficando para a posteridade tanto pelo seu notável trabalho quanto pela pessoa sensível que foi ao longo da sua emocionante peregrinação. Se existiu um poeta que soube esquadrinhar a alma humana, este, sem dúvida alguma, foi Santo Souza. Conclui-se que sua flamejante genialidade reverbera por gerações, como ele mesmo diz: ‘(...) para sossego geral serão fuzilados miséria, fome, fabricadores de guerra (...) as noites serão o ventre na imensa fecundação da luz mansa do futuro, da redenção dos que sofrem’. 

Santo Souza, eis o reconhecimento que merece! 

Igor Salmeron é Sociólogo, Doutor em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFS.

 

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