Artigo: Hermes Fontes, a apoteose de um romântico - Por Igor Salmeron
13/10/2022 22:56
Gênio, mente sergipana das mais brilhantes, poeta irremediável. Seu nome? Hermes Floro Bartolomeu Martins de Araújo Fontes. Nascido em Boquim, num áureo dia 28 de agosto do ano 1888. Seus pais eram os camponeses Seu Francisco Martins Fontes e Dona Maria de Araújo Fontes, pessoas de origem simples que sustentavam a família a custo de muito sacrifício baseado na lavoura. Para quem conhece essa reluzente alcunha só por enxergar em logradouro de uma das avenidas mais movimentadas de Aracaju, não sabe que por detrás de tal epítome, existe um homem que marcou o cenário das letras em nível nacional.
Dotado por intangível vocação, possuidor de atilamento inimitável, Hermes Fontes foi daquelas figuras que não se deixavam passar desapercebidas. Prova disso é que ele conseguiu chamar a atenção de ninguém menos que o renomado jurista Martinho Garcez, chefe de Estado na época auferida, que viu em Hermes Fontes um talento em plena ascensão. Garcez o adotou e o leva ao Rio de Janeiro no ano de 1898 para que continuasse seus estudos. Dez anos depois, acaba sendo aprovado em 1º lugar num Concurso dos Correios.
Desde seus 15 anos de idade, Hermes Fontes passou a colaborar com a imprensa, aonde iniciou no Jornal ‘O Fluminense’, de Niterói. Sua verve de poeta e crítico literário vulcanizava por onde passou com indiscutível maestria. O ano de 1911 marcou sua formação em Direito, pela Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais, onde Sílvio Romero lecionava. As primeiras décadas do século XX no que se refere à poesia brasileira não pode deixar de mencionar os basilares trabalhos de Hermes Fontes em sua efetiva contribuição.
Prodigioso, a publicação das suas primeiras obras não tardou em lhe trazer de imediato o prestígio merecido. Dentre tantas, destaco aqui a sublime ‘Apoteoses’ veiculada no ano de 1908, que o enleva a ser um dos melhores poetas brasileiros. Seus admiradores incluíam nomes do quilate de Olavo Bilac que chegava a entoar ‘Hermes Fontes é uma revelação de força lírica’. Sonhador nato, conjeturava ser o Valete dos poetas e membro da Academia Brasileira de Letras.
Participou da organização da Academia Sergipana de Letras, tendo seu nome figurado na Ata de 1º de junho do ano 1929, como Fundador da Cadeira nº 16, que tem como Patrono o poeta Pedro de Calasans. Foi autor de livros de obras poéticas: Gênese (1913), Mundo em chamas (1914), Ciclo de Perfeição (1914), Miragem do Deserto (1917), Epopeia da Vida (1917), Microcosmo (1919), O Despertar (1922), A Lâmpada Velada (1922), A Fonte da Mata (1930). Publicou também um livro em prosa: Juízos Efêmeros (1916).
De influência parnasiana, simbolista e pré-modernista Hermes Fontes está no rol dos imortais na História da Literatura Brasileira ao lado de Augusto dos Anjos. Seu jeito acanhado desvelava de maneira paradoxal sua genialidade indomesticável. A aparência esquálida, gagueira e surdez persistentes foram alguns fatores que o fizeram se isolar, vivendo como recluso no final da sua precoce existência atormentada por desilusões amorosas e infortúnios dos mais variados.
No dia 26 de dezembro do ano 1930, Hermes Fontes se despede aos 42 anos de idade atirando em sua cabeça numa póstuma noite de natal no Rio de Janeiro. Em `Antologia Poética’, nos diz que: ‘Aos que vêm, após mim, ébrios do sonho da arte, pagar tributo à dor, que retempera, os que se vão exaustos de buscar, por toda arte essa quimera – sonho dos nossos sonhos, perfeição’.
Conclui-se que Hermes Fontes foi a apoteose de um romântico inveterado.
Igor Salmeron é Doutor em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFS.
Compartilhe