Artigo: Pedro Calazans, o poeta esquecido - Por Igor Salmeron
09/11/2022 07:47
Poucos autores foram tão prolíficos quanto Pedro de Calasans, nome que fez história no cenário cultural de Sergipe e além-fronteiras. Foi poeta, crítico literário, jornalista, advogado, promotor de justiça e juiz de direito. Nascido em 29 de janeiro do ano 1837 no eminente Engenho Castelo localizado no município de Santa Luzia, cujo proprietário era o seu pai, João José de Bittencourt Calasans, respeitado tenente coronel, advogado, político que foi vice-presidente da província e um dos principais precursores da seara agronômica sergipana.
Sua adorada mãe era Dona Luísa Carolina Amélia de Calasans, mulher de fé imorredoura que lhe fez herdar espírito tenaz e criativo. Realizou seus primeiros estudos no clássico Liceu de São Cristóvão, finalizando-os em Recife. Pedro de Calasans foi prodígio precoce, já publicando seu primeiro livro de belas poesias aos 16 anos de idade no ano de 1855, intitulado ‘Adeus’. Depois começou a contribuir com alguns jornais da região, ganhando expressa notoriedade nas seletas rodas intelectuais da efervescente capital pernambucana.
Dois anos depois, publicou seu segundo livro denominado ‘Páginas Soltas’, e de maneira subsequente ingressa na Faculdade de Direito de Recife, onde arrematou seu bacharelado com louvor no dia 16 de dezembro do ano 1859. Regressa a Sergipe com bagagem de ensinamentos e assume a Promotoria da Comarca de Estância, casando-se com rica herdeira, mas tão logo separam-se. No campo da política, consegue ser eleito deputado geral para a legislatura compreendida entre os anos de 1861 a 1864.
Transfere-se para a capital do Império, onde fez advocacia e militou na seara jornalística. O ano de 1858 é marcado pela publicação de outra das suas importantes obras, nominada ‘Últimas Páginas’. A partir de 1864 leva vida de viajante e parte para a Europa, onde percorreu diversos países. Nesse aventurado entremeio, publica três livros, sendo um em Bruxelas intitulado ‘Ofenísia’, e dois em Leipzig, chamados ‘Uma Cena de Nossos Dias’ e ‘Wiesbade’, esta última sendo sua obra mais célebre.
Regressou ao Brasil no ano de 1867, época em que resolve abandonar a política e que é nomeado juiz municipal de Caçapava, em São Paulo. Nesse momento publica mais quatro livros produzidos durante sua estadia europeia. Entre eles destacam-se: ‘A Campa e a Rosa’, ‘A Morte de uma Virgem’, ‘A Rosa e o Sol’ e ‘Qual Delas?’. Após esse tempo dedicado aos livros, regressa para a atividade política.
Dessa feita, foi eleito deputado estadual provincial pelo Rio Grande do Sul. Depois obteve remoção para a Comarca de Jeremoabo na Bahia onde começou a sentir os primeiros insidiosos sintomas de tuberculose pulmonar. Em busca de tratamento eficaz, partiu para Ilhéus, Serra e Diamantina, estas duas últimas localizadas em Minas Gerais. No ano de 1874, na esperança de conseguir alguma melhora perceptível, procurou a Ilha da Madeira, onde infelizmente não chegou pois veio a falecer a bordo do navio que o transportava, já próximo de Lisboa.
De estilo ultrarromântico, Pedro de Calasans angariou prestígio por onde passou. Sílvio Romero chegava a entoar que ‘as produções de Calasans foram seminais e das mais interessantes no romantismo brasileiro’. Encapsulou a inspiração cosmopolita nos colocando em pé de igualdade com a produção estrangeira. Conclui-se que Calasans não pode ser esquecido ou só conhecido por ser nome de avenida em Aracaju. Já dizia em ‘A um menino’: ‘Dorme em sossego, pois no livro do destino, tens uma sina feliz’.
Somos felizes e afortunados em Sergipe, tenhamos consciência disso!
Igor Salmeron é Sociólogo, Doutor em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFS.
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