Artigo: José Bonifácio Fortes Neto: Um ilustre intelectual sergipano - Por Igor Salmeron

24/01/2023 06:40


Artigo: José Bonifácio Fortes Neto: Um ilustre intelectual sergipano - Por Igor Salmeron

Ao fazer algumas pesquisas acerca de nomes marcantes da Faculdade de Direito de Sergipe, um nome despontou com devida altivez: José Bonifácio Fortes Neto. Este vulto nasceu em Aracaju num dia 26 de abril do ano 1926, sendo um dos filhos ao lado do seu irmão Lélio do casal:  Seu Arício de Guimarães Fortes e D. Saudalina Passos de Guimarães Fortes, pais que os fizeram crescer num ambiente harmônico e repleto de estabilidade. Os exemplos de espírito público e, sobretudo, amor à família foram as maiores heranças espoliadas aos seus insignes descendentes.

Os primeiros passos escolares de Bonifácio Fortes se deram no Jardim de Infância Maynard Gomes. Em sucedâneo, se deu sua transferência para o Colégio Nossa Senhora da Glória, situado então na Rua Maruim cuja Professora Cecília Maia se tornou marcante para várias gerações. Depois foi para o Colégio Tobias Barreto dirigido pelo notável Prof. José de Alencar Cardoso. Lá recebeu aprendizados valiosos de eternas mentes brilhantes como: Artur Fortes, Abdias Bezerra, Garcia Moreno, José Calazans dentre outros. O ano de 1943 demarca seu ingresso no Atheneu donde se realçou como jovem engajado nas causas coletivas, reivindicando direitos e editando seus primeiros jornais. 

A partir de 1941 embarca na atividade jornalística de forma prolífica, participando como redator de veículos de comunicação, exemplificados por: “O Nordeste”, “Sergipe Jornal”, “Gazeta de Sergipe” e “A Cruzada”. Apresentou programas na Rádio Aperipê e era correspondente do “Diário da Bahia”, escrevendo também em outros periódicos. Seu amor pelas letras era mirífico e em 1945 rumou para Bahia donde iniciou seu Curso de Direito. Em 1948 regressou para Aracaju donde ministrava brilhantes aulas acerca da História Geral e do Brasil na Escola Normal Rui Barbosa em vaga surgida e preenchida por ele ao passar pela banca edificada por: Maria Thetis Nunes, Felte Bezerra e Gonçalo Rollemberg Leite.

Em 1949 tornou-se Promotor Substituto e o ano de 1950 assinalou a formação acadêmica com sua diplomação em Direito. Volta para Sergipe bacharel, sendo Promotor Substituto em Neópolis, além de atuar como Professor de História. Essa fase efervescente perdurou até o ano de 1963.  Nesse entremeio apreendeu experiências no que se refere às atividades jurídico-educacionais. Em 1951 prestou concurso para Promotor Público Efetivo e por comissão exerceu cargo de Diretor do Serviço Pessoal do Estado entre os anos de 1951 a 1953 durante a gestão de Arnaldo Rolemberg Garcez.

Ademais, foi conferencista dos mais requisitados. Apaixonado por sétima arte, chegou a publicar importantes obras como “Noções de Cinema” fornecendo valorosa contribuição à Sociedade de Cultura Artística de Sergipe no etéreo campo da cinefilia e do teatro. Além disso esteve no rol dos fundadores do Clube de Cinema sergipano ao lado de conspícuos nomes como: José Lima de Azevedo, Núbia Marques Nascimento, Maria Lúcia D’Ávila Rolemberg e José Apóstolo de Lima Neto que era o responsável por gerenciar a antológica Livraria Regina.

Em 1953 prestou concurso para Juiz e exerceu de forma exemplar a magistratura em São Cristóvão entre os anos de 1953 a 1963. Com a criação da Faculdade Católica de Filosofia, Bonifácio Fortes foi convidado a integrar seu quadro docente, exercendo a função de Professor na área da Geografia Humana. Ensinou Estética e também História do Brasil. Depois com o nascimento da Escola de Serviço Social lecionou Noções de Direito e Direito do Menor, além de Direito Constitucional e Administrativo.

Nesse tempo perfilavam com ênfase grandes nomes do Direito sergipano: Gonçalo Rollemberg Leite, José Silvério Leite Fontes, Balduíno Ramalho e Pedro Matos para citar alguns. Ressalte-se que Bonifácio Fortes foi fundador e diretor do Ginásio São Cristóvão entre os anos de 1960 a 1961. Ademais pelos relatos coletados, se realçava como homem de palavra que honrava os compromissos assumidos.

Pioneiro nos estudos de Ciência Política, se destacou pela lancinante produtividade entre os anos de 1958 a 1964. Do professor baiano Nelson de Souza Sampaio teve bússola de ensinamentos que levou consigo por toda sua trajetória. Publicou uma série admirável de artigos sobre processos eleitorais que o alavancaram em cenário nacional.

Foi aprovado no concurso para Juiz do Trabalho em 1960, não deixando de participar das discussões fundamentais da época auferida, como, por exemplo, acerca da criação/instalação da Universidade Federal de Sergipe que germinou em 1967 e acabou se concretizando em 1968. Permaneceu focado no ensino bem como nas atividades burocráticas até sua aposentadoria em 1991. Lembrando que ele já havia se aposentado como Juiz do Trabalho no ano de 1979, vindo a tornar-se Procurador Geral do Estado de Sergipe entre 1979 e 1980 durante o Governo de Dr. Augusto do Prado Franco.

Seus esforços e talentos são marcas que não perecem. Na magistratura se destacou pela radiante competência, afabilidade e preocupação com o emprego retilíneo da justiça. Na seara do magistério até hoje é lembrado pelo jeito cativante de encantar seus alunos com aulas repletas de didática e conteúdo. Não podemos perder de vista que Bonifácio Fortes foi o pioneiro quando o assunto é Ciência Política em Sergipe. Fulgura ao lado de grandiosos personagens como Tobias Barreto, Silvio Romero e Gilberto Amado.

Jurista notabilizado, é referencial para os pesquisadores que objetivam entender questões relacionadas ao poder político, sistema representativo e Estado ao nível local. Sua formação humanista lhe teceu o espectro de fácil trânsito pela História, Geografia Humana e Direito em geral. As suas contribuições acerca dos pleitos eleitorais ocorridos entre 1933 a 1967 são de consulta imperecível. Vale asseverar da relevância dos seus estudos biográficos sobre grandes nomes do cenário sergipano, como: Inácio Joaquim Barbosa, Felisbelo Freire, General José Calazans e José Rollemberg Leite, sem deixar de olvidar o que escreveu sobre o avultado jurista Gumercindo Bessa.

Desde o dia 02 de outubro do ano 1978 ocupou a Cadeira 19 da Academia Sergipana de Letras. Foram diversas obras publicadas ao longo da sua peregrinação existencial: “Evolução da Paisagem Humana da Cidade de Aracaju”, “Democracia de Poucos – Um Ensaio de Ciência Política”, “Democracia de Raros e outros ensaios”, “Zepelin”, “Poemas do Meu Caminho”, entre outras.

Na esfera doméstica, Bonifácio Fortes contraiu belo matrimônio com Marinalva de Azevedo Menezes no ano de 1952. Da união resultaram seus filhos: Arício, André, Roseane, Fontes e José Bonifácio.

Conclui-se que Bonifácio Fortes homem antenado com a sua época, foi defensor ferrenho da equidade e do isonômico exercício da justiça. Educador e dedicado magistrado sabia o valor da instrução na vida das pessoas, contribuindo com suas ações na implementação da expansão efetiva da cidadania. Faleceu aos 78 anos de idade, no dia 05 de novembro do ano 2004 deixando legado que não fenece jamais entre os sergipanos!

Igor Salmeron, Sociólogo - Doutor em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Sergipe (PPGS-UFS). Membro vinculado à Academia Literocultural de Sergipe (ALCS) e ao Movimento Cultural Antônio Garcia Filho da Academia Sergipana de Letras (MAC/ASL). E-mail para contato: [email protected]

 

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