Artigo: Augusto do Prado Franco, o desbravador da política sergipana - Por Igor Salmeron
16/08/2023 12:42
Se existe uma família que é sinônimo do desenvolvimento efetivo sergipano, essa, sem dúvida alguma, é a Família Franco, cujo maior representante reside na eminente figura de Dr. Augusto do Prado Franco, o homem que nasceu para realizar. Seu espírito de bravura e pioneirismo, fez com que seu clã familiar se transformasse numa das dinastias genealógicas mais poderosas e influentes tanto na seara política quanto na ambiência econômica de Sergipe e do Brasil.
Para quem acompanha os meus trabalhos de pesquisa, sabe que me dedico bastante a analisar sócio historicamente a importância da Família Franco em Sergipe. Não deixaria passar em branco o registro de um artigo dedicado somente à trajetória de Dr. Augusto do Prado Franco, o representante mais conspícuo de tão distinta estirpe familiar. Augusto Franco nasceu em Laranjeiras num dia 04 de setembro do ano 1912. Filho de Albano do Prado Pimentel Franco e de Dona Adélia do Prado Franco, descendente de clássica família sergipana cujo poderio econômico nos remete à indústria açucareira.
Dos aguerridos pais, herdou seu espírito de honestidade e retilíneo caráter. Durante sua lúdica infância e iniciação nos degraus escolares, passou tempos entre a casa grande da Usina e o Colégio Salesiano, em Aracaju. Logo depois, foi estudar no Colégio Antônio Vieira, de orientação jesuíta, em Salvador, na Bahia, de onde saiu para fazer o curso médico, na tradicional Faculdade de Medicina da Bahia em 1932, graduação esta que concluiu no ano de 1937. O ano de 1938 passou no Rio de Janeiro, especializando-se em otorrinolaringoscopia, no Hospital Escola São Francisco de Assis, até então referencial no ensino e na prática das diversas especialidades médicas, sob a orientação do Dr. Estevão Resende.
Retorna para Sergipe no finalzinho do ano 1938, tempo que marcou a preparação do seu consultório e compra de equipamentos.
Em 1939, devidamente qualificado, iniciou suas atividades profissionais, com a colaboração do lendário médico Dr. Lauro Porto, seu colega de faculdade, chegou a realizar uma delicada cirurgia de mastoide, cujos registros históricos constam ser a primeira desse gênero feita por aqui. Depois de pouco mais de um ano exercendo a atividade médica, resolve atender aos apelos constantes da sua devotada figura materna, D. Adélia, matriarca da família, para ingressar no ramo empresarial. É importante frisar que os negócios da família até então eram tocados pelos seus irmãos mais velhos, José do Prado Franco, o Zezé do Pinheiro, e por Walter do Prado Franco, este que depois viria a ser senador e deputado federal. Dona Adélia com seu tino incomparável percebeu que a presença e contribuição de Augusto Franco seriam fundamentais para que a família tivesse mais celeridade e sucesso nos negócios. Assim ele assumiu a direção da Fábrica de Tecidos, a Companhia Industrial São Gonçalo, em São Cristóvão, em sucedâneo avocou também a direção do Banco Comércio e Indústria de Sergipe, que era sediado em Aracaju, e com filiais distribuídas em Propriá, e em Alagoinhas, na Bahia.
As atividades empresariais recrudesceram com os falecimentos de seu irmão José do Prado Franco, no ano de 1949, da sua mãe Adélia, em 1954, e do irmão Walter Franco, no ano de 1957. Além das usinas de açúcar, que cresceram exponencialmente, do Banco e da Fábrica de São Cristóvão, Augusto Franco adquiriu a Fábrica Sergipe Industrial, em Aracaju, a mais antiga do Estado, fundada em 1882 e instalada em 1884, além do Engenho Central, em Riachuelo, que era de propriedade do seu irmão Antônio Franco, onde depois foi instalada uma central de acabamento de tecidos.
Augusto Franco sempre investiu maciçamente no Estado, liderava os usineiros na Cooperativa e depois no Sindicato, enquanto participava de pequenas empresas, a exemplos da Agropastoril Caraíbas, Indústria e Comércio Franco, e geria um Banco na Bahia. Compreendia como poucos o dinamismo da economia brasileira desde a década de 1960. Diversificou suas atividades nos negócios, com a aquisição da fábrica da Coca-Cola em Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco, instalação da TV Atalaia, das rádios AM e FM, da Rádio Cidade, em Simão Dias, do Jornal da Cidade, em Aracaju, aquisição da TV Sergipe, instalação da fábrica de tecidos Nortista, nesse tempo uma das mais modernas do Brasil.
Prova da sua intrínseca liderança é quando em 1963 assumiu a presidência do Sindicato dos Produtores de Açúcar de Sergipe, mantendo-se no cargo até 1969. Dono da maior usina açucareira do Estado e de duas fábricas de tecidos, Augusto Franco foi delegado na Confederação Nacional da Indústria (CNI) durante os anos de 1966 a 1968. De médico do indivíduo, passou a ser médico do social entrando para a seara política. No mês de novembro de 1966 elegeu-se deputado federal por Sergipe na legenda da Aliança Renovadora Nacional (Arena), sendo o candidato mais votado em todo o Estado.
Ao assumir o mandato em fevereiro de 1967, tornou-se membro da Comissão de Finanças da Câmara. Em novembro de 1970 elegeu-se senador por seu Estado na mesma legenda, juntamente com Lourival Batista. Deixou a Câmara dos Deputados ao final da legislatura, em janeiro de 1971, e no mês seguinte assumiu o mandato no Senado, onde foi membro das comissões de Economia e de Serviço Público, suplente da Comissão de Relações Exteriores, e ainda segundo-secretário da mesa em 1973 e 1974. Em 1974 teve seu nome incluído na lista elaborada pelo ex-governador Leandro Maciel que foi enviada ao presidente Ernesto Geisel, a fim de que indicasse o nome da sua preferência para futuro Governador do Estado.
No ano de 1978, foi eleito no mês de setembro, pelo Colégio Eleitoral, Governador de Sergipe, com a unanimidade dos votos da Arena. Nesse tempo, Augusto Franco era considerado o homem mais próspero do Estado de Sergipe, tendo interesses em diversos ramos, como na agropecuária, no comércio e nos transportes, além de ser proprietário de um sistema de órgãos de comunicação que incluía duas emissoras de rádio, uma de televisão e um jornal diário. Empossado no ano de 1979, defendeu a reestruturação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).
A partir da extinção do bipartidarismo que aconteceu num dia 29 de novembro de 1979 e a consequente reformulação dos partidos, Augusto Franco filiou-se à agremiação governista, o Partido Democrático Social (PDS). No ano de 1982 coordenou o processo de escolha do candidato do PDS à sucessão estadual e indicou o ex-prefeito de Aracaju João Alves Filho. Deixou o governo de Sergipe em maio, para disputar as eleições parlamentares de novembro sucedâneo. Foi substituído pelo vice-governador Djenal Tavares de Queiroz. Nesse pleito, Augusto Franco elegeu-se deputado federal na legenda do PDS com mais de 102 mil votos (31% da votação válida de Sergipe), obtendo assim o maior índice percentual de votos em todo o Brasil.
Assumiu o mandato na Câmara no mês de fevereiro do ano 1983. No mês de julho, Augusto Franco foi eleito por aclamação presidente do PDS. Em janeiro de 1986 transferiu-se para o PFL, já em janeiro de 1987, ao final da legislatura, encerrou sua admirável carreira política. Durante sua gloriosa vida pública foi presidente da Usina Central Riachuelo, fundador da Rádio Atalaia e da TV Atalaia, proprietário do tradicional Jornal da Cidade, de Aracaju, e diretor da Usina São José do Pinheiro, da Agropecuária São José e da Central de Acabamento, ligada à área de acabamentos e estamparias têxteis.
Passados 12 anos de afastamento da política, no ano de 1999, foi presidente de honra da antológica Fundação Augusto Franco, instituída pelas empresas e pela família, como bela forma de prestar-lhe merecida homenagem. A expansão dos seus negócios sempre esteve ligada a preocupação social, pois ao amplificá-los, gerava milhares de empregos para toda população sergipana. Dada sua relevância e prestígio coletivo, jamais podemos esquecer que o empresário e político mais influente de Sergipe no século XX, foi responsável por um ciclo de mandatários políticos que durou mais de três décadas.
Sergipe foi governado por quatro políticos, além dele próprio, que foram eleitos por sua determinante influência. Tudo começou no dia 15 de março de 1979, data que marcou o começo do governo de Augusto Franco e que depois se estendeu por diversas gestões, dentre as quais podemos elencar: Djenal Tavares Queiroz, João Alves Filho, Antônio Carlos Valadares, e do seu filho Albano Franco, este último por duas vezes consecutivas. Durante a sua passagem como governador de Sergipe, foram inúmeras as estruturantes obras essenciais para o efetivo desenvolvimento sergipano.
As estradas foram asfaltadas nos limites sergipanos, com verbas conseguidas dentro dos mais aperfeiçoados planos. Foram centenas de quilômetros de estradas principais e vicinais. O Governo Augusto Franco criou o projeto ‘Caminhão do Povo’ que vendia em todos os bairros quantidades maiores de alimentos para o povo por preços muito menores, fato que comprova mais de uma vez a preocupação político-social dele perante a comunidade. Construiu muitas escolas e postos de saúde, a partir dos apropriados princípios, seja em Aracaju ou nos diversos municípios. Os bairros carentes aracajuanos eram alvos de constante preocupação de Augusto Franco que fornecia toda sua indispensável atenção.
Podemos enfatizar outras seguintes ações: a implantação da Adutora do São Francisco que tornou Aracaju a primeira capital do nordeste abastecida pelo Rio São Francisco, a industrialização do potássio, o início das obras do Terminal Portuário, a construção do conjunto habitacional que leva o seu nome. Diversas realizações fundamentais foram feitas nas áreas industrial, rodoviária, cultural, habitacional, de energia e nos setores da educação e saúde. Não podemos olvidar que o secretário de saúde do seu governo, foi ninguém menos que o mitológico pediatra Dr. José Machado de Souza, uma das figuras mais relevantes no cenário médico de Sergipe.
O que fez Augusto do Prado Franco para todos os sergipanos não caberia em tão singelo artigo, mas ainda enfatizo com esmerada altivez: senão foi o maior governador até hoje em Sergipe, foi um dos maiores justamente pelas numerosas obras que fez em cada setor dentro de absoluta prioridade, demonstrando o seu real valor. Trabalhou para os mais necessitados, fruto de uma equipe administrativa competente. Aracaju por muitos anos sofreu com a falta de água, e pelas obstinadas ações de Augusto Franco é que esse problema se deliberou. A construção de uma adutora no Rio São Francisco inaugurada no ano de 1982, pelo então vice-presidente da República Aureliano Chaves continua sendo marco dos mais inestimáveis para Sergipe e além-fronteiras. Tanto é que Aureliano chegou a afirmar que tal faraônica obra valia por um governo.
Uma das maiores obras feitas em qualquer nação, o que demonstra mais uma vez a capacidade de fazer de Augusto Franco. O progresso se tornou visível e sólido com a gestão Augusto Franco, principalmente quando relembramos o Projeto Potássio, grande empreendimento, as fábricas de amônia e ureia, além das de cimento na próspera Zona da Cotinguiba. Nesse conjunto de obras, as indústrias forneceram emprego a inúmeros sergipanos que puderam ter um trabalho virtuoso e seu ganha pão. Pelo seu prestígio, Augusto Franco conseguiu junto ao Poder Federal na época, iniciar a construção do Porto em Sergipe, genuíno conduto da produção.
Durante seu Governo, edificou casas populares, houve a duplicação das moradas, não só em Aracaju, mas em diversos lugares. Foram diversas as obras concluídas, asfaltou várias ruas e avenidas, além das que foram reconstruídas. Não podemos esquecer que o Governo Augusto Franco forneceu a Laranjeiras projeção nacional quando da realização do Encontro Cultural, que teve ampla divulgação e incentivo. Foram diversos os grupos folclóricos, conjuntos musicais, teatrais, escritores sergipanos, poetas populares que se apresentaram e que enriqueceu ainda mais esse nosso insigne patrimônio histórico.
Enfrentava sabiamente as tensões no campo, sobretudo entre posseiros e proprietários. No seu Governo procurou dialogar com as lideranças do Estado e interferiu de forma sensata em diversos conflitos, chegando a desapropriar as terras da Ilha de São Pedro, entregando-as para a Fundação Nacional do Índio (Funai) para servir, de maneira definitiva, aos descendentes dos índios Xocó.
Uma das coisas que mais se destacam em Augusto Franco, foi a sua imperecível envergadura moral, procurou servir imparcialmente a todos sem distinção, em qualquer parte que houvesse necessidade. No ramo empresarial, por exemplo, nunca abusou da força, prova disso é que levava em consideração as causas operárias como primordiais em seu dever. Era algo irrevogável o fato de que os seus funcionários não precisavam recorrer à Justiça Trabalhista, pois Augusto Franco como empregador resolvia com a lídima parcimônia cada ponto de vista explanado. Liderança empresarial e política inigualável, Augusto Franco realizou um governo hábil, digno em todos os sentidos.
Homem consciente, modernizador, obstinado e justo que ponderava tudo para a promoção do bem comum. Na aprazível esfera doméstica, casou com Dona Maria Virgínia Leite Franco, a doce matriarca D. Gina, filha do ícone da medicina sergipana, Dr. Augusto César Leite. Gina foi uma mulher de fé inquebrantável, que promovia diversos trabalhos altruísticos e de coração enorme. Tiveram nove destacados filhos: Albano Franco, Walter Franco, Amélia Franco Guimarães, Marcos Franco, Maria Clara Franco Melo, Osvaldo Franco e Ricardo Franco, além de Antônio Carlos Franco e César Franco, já falecidos.
Votar em Augusto Franco era dever de consciência, pela sua visionária atuação, pelos investimentos estruturantes que foram feitos durante sua gestão e que ainda hoje são essenciais, por tudo quanto já fez em prol da população sergipana. Personagem determinado que não vivia de floreada retórica, mas, sim, arraigado na sua terra e que sabia que o importante é construir. Faleceu aos 91 anos em Aracaju num dia 16 de dezembro do ano 2003. Seu itinerário existencial nos atesta, como diria Sérgio Buarque de Holanda, que a história é mudança, é movimento, é transformação.
Conclui-se que Augusto do Prado Franco foi o desbravador da política sergipana, homem que demora séculos para surgir novamente, àquele que foi capaz de transitar entre a autoridade e solidariedade como raros o fazem. Em cenário tão somítico de figuras assim com egrégia desenvoltura, se enseja que ao menos pessoas que buscam promover o bem comum se inspirem a ingressar na atividade política com projetos de renovação a partir do imorredouro legado deixado por Augusto Franco, o enaltecido precursor. Sua honesta vida deve ser exemplo para os políticos atuais, pois sem dúvida alguma, tanto Sergipe quanto o Brasil estariam muito melhores.
Igor Salmeron é doutor em Sociologia pela UFS, escritor, biógrafo e articulista. Membro honorário da Academia Literocultural de Sergipe.
Ccontato: [email protected].
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